sábado, 2 de abril de 2011

A "saúde pública" que eu não quero ver

Resolvi transcrever aqui  uma discussão postada  no fórum da minha pós-graduação - Gestão em Saúde Pública. 
 Ela é um desabafo, misto de indignação e tristeza.
Assim como eu, creio que qualquer pessoa que tenha assistido o "Globo Repórter" e o "Jornal da Globo" ontem à noite (por incrível que pareça, dia primeiro de abril), deve ter ficado no mínimo indignado, para não dizer chocado.
 Infelizmente, aquilo tudo não é mentira. Bem melhor seria se fosse...
A pergunta que não quer calar dentro de mim é essa:
"Como gestor de saúde, como posso contribuir para que não aconteça essa "saúde pública" que ninguém quer ver?
O caso apresentado no Globo Repórter, da pequenina Ruth Cristine, cujo diagnóstico pós morte foi de leishmaniose visceral, e não pneumonia, como vinha sendo tratada.
Olhar para aquela criança, que praticamente morreu ali, diante das câmeras, é no mínimo revoltante para nós brasileiros, filhos de um país de grandezas continentais.
Vi na Dra. Annete, a decepção, e apesar de toda a mobilização da equipe para improvisar uma "UTI", já era tarde demais para a pequena Ruth.
Vi, no olhar da pobre mãe,  um misto de tristeza e indignação, por se ver impotente diante da vida ceifada. Uma vida que mal havia começado...
Agora eu pergunto: prá que impostos tão caros, se os recursos e verbas não chegam onde precisa? Um país que só em loterias arrecadou no ano de 2010 cerca de 8,8 bilhões de reais???
Peço desculpas pelo meu desabafo, mas como mãe e funcionária da saúde, assistir aquela cena, foi demais prá mim.
Enquanto eu chorava, sabe o que pensei?
Será que um desonesto político, seja deputado, senador, prefeito, vereador, enfim, qualquer cargo de confiança, deitaria em sua cama e dormiria tranquilo se tivesse assistido aquela matéria??? Será que continuariam a praticar ilícitos em nome do dinheiro???
Bem, infelizmente sabemos que isso em nada abala a muitos, e enquanto muitos dormem, nós temos que nos "conformar" em assistir um show na TV de mensalões, mensalinhos, dinheiro "na cueca", etc... Enquanto existir "poderosos" alimentando suas "gordas contas" em bancos na Suíça e paraísos fiscais, como poderão os gestores de boa vontade conseguir algo??? Como esses recursos desviados chegarão a esses pequenos que morrem todos os dias no país vítimas do descaso e da corrupção???
Ah! meus amigos, só tendo um coração de pedra para não se sensibilizar...
No Jornal da Globo, o desabafo do médico ortopedista Leolino Araújo, de Rondonópolis, foi literalmente de "cortar o coração".
Com a voz trêmula e os olhos cheios de água,  ele fez um desabafo sobre suas condições de trabalhar, onde atendia as emergências em "um cubículo improvisado", como ele mostrou.
Vi,  nos olhos daquele médico,  todos os seus sonhos, que pareciam "escapar" de suas mãos diante da impossibilidade de exercer sua profissão com DIGNIDADE, isto porque existem "poderosos" que simplesmente ignoram ou "fecham os olhos" para as questões sociais mais urgentes...
Eu sonho e acredito que uma saúde melhor, uma educação melhor, segurança melhor... podem ser possíveis.
Acredito que é possível fazer pequenos gestos que tenham grandes proporções, desde que feitos pelas pessoas certas, e exemplos no Brasil e no mundo temos "aos montes".
Precisamos de mais "Betinhos", "Zildas Arns", "Madres Tereza"...
Apesar do pessimismo que impera, e de meu desabafo "nada animador", confesso que acredito nos meus sonhos, e como prova deixo o trecho de uma música que escrevi em 1997 e pela qual venci um festival de música:
"...plante o amor e a justiça, se você quer colher a paz. Mas nunca desista, os sonhos nunca morrem, pode acreditar. Eles estão adormecidos, esperando A GENTE ACORDAR..."
Fique com Deus e até breve!